domingo, 15 de dezembro de 2019

NUM TEMPO DE REFLEXÃO


Num tempo de reflexão

José Angelo da Silva Campos



É isso!

É necessário que nos direcionemos ao silêncio; que busquemos o encontro com nosso “eu”, de uma forma em que sejamos capazes de ouvir.

Ouvir!

Quanto tempo do nosso dia reservamos para ouvir?

Normalmente, ao primeiro sinal que nos apresenta a manifestação de vida, seja num movimento, seja num som sem especificação, é ativado no nosso cérebro um processo de resposta rápida, programado para, num único ato, julgar e ofertar uma “sábia” palavra e, como consequência, em nada aproveitar da experiência gratuita daquela manifestação de vida que nos foi apresentada.

Precisamos da luz. É a luz que permite o conhecimento das formas, dos movimentos e das cores. Mas a luz também ofusca a visão do infinito.

Com tanta luz ao nosso redor, ficamos presos aos conteúdos mais próximos de nós. Tornamo-nos viventes de um mundo pequeno e finito, cuja razão da existência passa a ser efêmera e, por conseguinte, dependente da alegria passageira dos prazeres e conquistas materiais.

Nos dirigindo à ausência de luz artificial, numa noite de "céu de brigadeiro", há a revelação do espetáculo de luzes do infinito.

Assim como o silêncio, a escuridão também nos permite encontrar o verdadeiro sentido da vida.

Estamos num tempo de preparação para o encontro com o sentido da vida, que é o Natal, onde o próprio Deus se revela e se faz um de nós, Emanuel - Deus conosco, para que ao buscarmos o nosso eu, sejamos capazes de encontrar a Ele.

No silêncio e na escuridão ouvimos e vemos a Palavra e a Luz.

Que sejamos capazes de, a todo momento, buscarmos esse encontro pessoal com a Razão da vida, no mais íntimo do nosso ser.

E assim, provocarmos uma rede de Paz, Amor e Esperança neste barulhento e ofuscante mundo que vivemos.

Santo Natal e vida plena a todos!

quinta-feira, 2 de maio de 2019

A Poesia na Oração do Pai Nosso


A Poesia na Oração do “Pai Nosso

José Angelo da Silva Campos





O que é o poético? O que faz a essência da poesia?

De fato, sabemos que a poesia é uma arte. Arte literária.

Sendo arte, não se prende à rigidez das normas, mesmo ciente de que na forma clássica há regras que a sustentam.

O poema é fruto de uma criação e carrega consigo o pensamento, a sensibilidade e os valores do autor.

A forma (aparência) não faz do texto um poema, mas o conteúdo (substância) sim, pois é dela que abstraímos, encontramos o âmago da intenção do coração do poeta.

Eis a razão do poema: encontrar, em meio à aparência, a substância.

Nesse sentido, poema, a Oração do Pai Nosso, traz na forma (aparência) uma alocução dividida em sete partes.

Na substância, essas sete partes, são sete pedidos subdivididos em dois conjuntos: o primeiro contendo três pedidos formulados na segunda pessoa, versando sobre os assuntos de Deus neste mundo; o segundo conjunto contém quatro pedidos formulados na primeira pessoa do plural, que versam sobre as nossas esperanças, necessidades e indigências.

Há clara relação entre esses dois conjuntos de pedidos do Pai Nosso e as duas Tábuas do Decálogo, em substância, que são radicalmente desenvolvimentos das duas partes do mandamento principal: o amor de Deus e do próximo. A primeira Tábua fala da relação do homem com Deus e a segunda, da relação do homem com o próximo – instruções sobre o caminho do amor.

A formulação poética inicia-se no pensamento que se faz palavra e expressa conteúdo, daí o autor manifesta sua sensibilidade.

Portanto, normalmente o pensamento precede a palavra. Essa palavra deve trazer em si a essência do sentimento.

No caso da oração, essencial se faz que as palavras comuniquem com Deus, realizem esse encontro intimo entre criador e criatura.

São Bento marcou em sua regra a fórmula: “Mens nostra concordet voci nostrae”. “o nosso espírito deve estar em harmonia com a nossa voz” (Reg 19,7).

Na Oração dos Salmos essa lógica poética da precedência do pensamento, se desfaz.

A palavra, a voz, precede-nos, e o nosso espírito deve inserir-se nesta voz.

Pois, tão longe estamos de Deus, tão grande e misterioso, que nós mesmos não sabemos como rezar, e, em Lucas, o discípulo pede: “Senhor, ensina-nos a rezar...” (Lc 11,1).

E assim, na Oração do Pai Nosso, encontramos nas palavras (voz) o sentido, o pensamento que nos aproxima de Deus e nos permite, por Jesus Cristo, o autor, a chama-lo de Pai e, não somente Pai, mas, Pai Nosso.

“Meu Pai”, é exclusividade do Filho unigênito, que no pleno amor, nos adota como irmãos.

E é assim, nessa irmandade que com Cristo rezamos ao Pai pelo Espírito Santo.

Ao declamarmos esse poema, a oração do Pai Nosso, devemos olhar para a aparência e ver a substância que tem por objeto o Amor supremo, mar onde navega a poesia.

















Fundamentação doutrinal livremente extraída da obra:

Jesus de Nazaré: primeira parte: o batismo no Jordão à transfiguração / Joseph Ratzinger; tradução José Jacinto Ferreira de Farias. – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007.