“Não eu, mas Tu”
José Angelo da Silva Campos
“Pai, se é de Teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a Tua.” (Lc 22,42)
Da angustiosa dor no Getsêmani também podemos extrair o ensinamento para suportarmos as nossas angústias e profundas feridas da alma.
A natureza humana de Jesus sucumbiu, num ato livre de obediência, à vontade divina. Numa demonstração clara da idealização do homem perfeito.
Acima dos desejos humanos, reside no coração cristão a obediência à vontade de Deus. “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu”
Naquele sofrimento de Cristo no Getsêmani, está contida a nossa agonia daquela dor inexplicável, daquela angústia que fere a alma, por tudo que contradiz a nossa vontade e nos encaminha ao desespero da perda da fé.
É no monte das Oliveiras que encontraremos o refrigério daquela dor insuportável.
O Papa Bento XVI, na sua obra Jesus de Nazaré, apresenta a seguinte citação, que justifica nossa narrativa:
“Nesse sentido, como fez Pascal, podemos aplicar também a nós, de modo muito pessoal, o sucedido no monte das Oliveiras: também o meu pecado estava presente naquele cálice pavoroso. ‘Aquelas gotas de sangue, derramei-as por ti’: são as palavras que Pascal ouve dirigidas a si pelo Senhor em agonia no monte das Oliveiras”
Quem de nós não entende que a sua própria dor é sempre maior que a do outro?
Afinal, a dor é sentimento. E sentimento só se pode ter o próprio. Não há como sentir o sentimento do outro.
A maioria de nós carrega no fundo da alma uma angústia, um questionamento sobre algo que nos perturba.
Impulsionados pelo egocentrismo, alimentamos o falso entendimento de que seríamos alvo de uma espécie de perseguição, um castigo divino, uma maldição.
Essa angústia provocada pelo sofrimento pode, em relação a si próprio, gerar a pior reação que um ser humano pode ter em relação ao outro, a pena.
O estado de pena causa um círculo vicioso de dor e autopiedade que, girando em torno de si mesmo, chora a dor e dói o choro.
Jesus disse: "Vinde a mim,vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. porque meu jugo é suave e meu peso é leve." (Mt 11,28.30)
Para que o fardo se torne leve, é necessário lançar a vida nos braços de Cristo. Despojar de tudo que nos reveste e clamar com sinceridade e fé:
“seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu.”
Apresentar o fardo da nossa angústia e dor ao Senhor, é unir a nossa humanidade à dEle, que no monte das Oliveiras apresenta ao Pai a Sua fidelidade, que assim também se faz nossa: “Não eu, mas Tu.”
A minha dor não é maior que a dEle, nem menor que a sua, mas a minha vida está contida nEle da mesma forma que a sua.
Juntos formamos um só corpo, num único mistério que eleva nossa humanidade ao encontro do Pai, atingindo a paz, tão desejada.