domingo, 28 de outubro de 2012

APROFUNDANDO, FÉ E POLÍTICA


Aprofundando, Fé e Política

“O homem não pode separar-se de Deus nem a política da moral”

São Tomás Moro – Padroeiro dos Governantes e dos Políticos

José Angelo da Silva Campos



A resposta do homem a Deus – Por sua Revelação. “o Deus invisível, levado por seu grande amor, fala aos homens como amigos, e com eles se entretém para os convidar à comunhão consigo e nela os receber”¹. A resposta adequada a este convite é a fé.

Pela fé, o homem submete completamente sua inteligência e sua vontade a Deus. Com todo o seu ser, o homem dá seu assentimento a Deus revelador². A Sagrada Escritura denomina “obediência da fé” esta resposta do homem ao Deus que revela³. (Catecismo da Igreja Católica – 142-143) (¹Constituição Dogmática Dei Verbum-2 / ²Constituição Dogmática Dei Verbum-5 / ³Carta ao Romanos 1,5)

O Catecismo da Igreja Católica ensina sobre a obediência da fé dizendo:

"Obedecer (‘ob-audire’) na fé significa submeter-se livremente à palavra ouvida, visto que sua verdade é garantida por Deus, a própria Verdade. Desta obediência, Abrahão é o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe, e a Virgem Maria, sua mais perfeita realização." (144)

A palavra obedecer vem do verbo ouvir. É um ouvir maior que simplesmente escutar. É um ouvir com adesão livre à palavra ouvida.

Deus nos fala como amigos e a amizade é reciprocidade de afeto, portanto, Deus ama o homem e é necessário que o homem o ame de volta para que a amizade se concretize.

A virtude da fé é uma virtude teologal, ou seja, ela é infundida no coração do homem pelo próprio Deus. Desta forma, o homem é completamente dependente de Deus, podendo ser comparado até mesmo a um mendigo. Até mesmo a fé que Deus espera que o homem lhe retribua é uma virtude que deve ser recebida Dele. É por isso que o Catecismo elenca algumas características da fé:

1.       - a fé é uma graça, "é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele" (153);

2.       - a fé é um ato humano, "na fé, a inteligência e a vontade humanas cooperam com a graça divina: crer é um ato de inteligência que assente à verdade divina a mando da vontade movida por Deus através da graça." (155);

3.       - a fé está relacionada à inteligência, o homem crê "por causa da autoridade de Deus que revela e que não pode enganar-se e nem enganar"; "o assentimento da fé não é de modo algum um movimento cego do espírito" (156);

4.       - a fé é certa, "mais certa que qualquer conhecimento humano porque se funda na própria Palavra de Deus que não pode mentir. [...] as verdades reveladas podem parecer obscuras à razão e à experiência humanas, mas a certeza dada pela luz divina é maior que a que é dada pela luz da razão natural" (157);

5.       - a fé procura compreender, "é característico da fé o crente desejar conhecer melhor Aquele em quem pôs a sua fé e compreender melhor o que Ele revelou; um conhecimento mais penetrante despertará por sua vez uma fé maior, cada vez mais ardente de amor"; "eu creio para compreender, e compreendo melhor para crer (Santo Agostinho)" (158);

6.       - a fé não se opõe à ciência, "portanto, se a pesquisa metódica, em todas as ciências proceder de maneira verdadeiramente científica, segundo as leis morais, na realidade nunca será oposta à fé: tanto as realidades profanas quanto as da fé originam-se do mesmo Deus" (159).

A fé está relacionada com a inteligência, é preciso conhecer as razões para se crer, porém, a razão não gera a fé. Ninguém pode ser constrangido a crer por nada nem por ninguém. A fé deve ser livre. É por isso que Deus se esconde do homem, porque, caso se mostre, a liberdade humana cai por terra. O homem deve amar a Deus livremente, por meio de um ato de fé. Desta maneira, é sempre possível que não se creia - esta é a verdadeira liberdade. Diz o Catecismo:

"Com efeito, Cristo convidou à fé e à conversão, mas de modo algum coagiu. ‘Deu testemunho da verdade, mas não quis impô-la força aos que a ela resistiam. Seu reino... se estende graças ao amor com que Cristo, exaltado na cruz, atrai a si os homens." (160)

A fé é razoável, é inteligível, mas não é algo que se possa provar racionalmente, de forma apodítica, irrefutável. Assim sendo, que cada um possa renovar seu ato de fé, conscientes de ser imprescindível à dignidade humana "prestar, pela fé, à revelação de Deus plena adesão do intelecto e da vontade e entrar, assim, em comunhão íntima" (155) com Deus. (Texto extraído “ipsis litteris” do Curso de Catecismo – Aula 16 – www.padrepauloricardo.org )

Portanto, sendo a fé uma adesão de livre vontade, uma resposta do homem a Deus, um ato consciente permeado pela inteligência e fundamentado na certeza da realização daquilo que se espera, torna-se intrínseca ao fiel, inseparável da orientação do seu pensamento.

Aquele que se torna obediente na fé, escuta com todo o seu coração e adere radicalmente ao Caminho, à Verdade e à Vida, respondendo ao convite de comunhão com Deus, confessando sua fé em um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.

A fé que vincula o homem a Deus torna-o inseparável Dele e de tudo que significa sua amizade. Essa amizade que por si propõe a troca de afeto, Deus nos ama e a ele respondemos com o amor, através da vivência da caridade e na esperança.

Esse vínculo de livre vontade que a fé estabelece, torna-nos comprometidos com a coerência entre a fé e a vida, entre a cultura e o Evangelho, cumprindo a exortação aos fieis feita pelo Concílio Vaticano II “a cumprirem fielmente os seus deveres temporais, deixando-se conduzir pelo espírito do Evangelho. Afastam-se da verdade aqueles que pretextando que não temos aqui cidade permanente, pois demandamos a futura, crêem poder, por isso mesmo, descurar as suas tarefas temporais, sem se darem conta de que a própria fé, de acordo com a vocação de cada um, os obriga a um mais perfeito cumprimento delas”.

A política, como arte ou ciência de governar, requer compromisso e responsabilidade daqueles que assumem o poder e daqueles que o outorgam, em manter como centro de todas as ações e pensamentos a pessoa humana.

27Deus criou o ser humano à sua imagem... 28E Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão’.” (Gn 1, 27-28)

A democracia é o regime político que melhor exprime a participação popular, porém seria frágil e antagônica ao seu conceito se não tivesse como fundamento a centralidade da pessoa humana.

Por ser o símbolo da liberdade plena, a democracia vem sendo alvo de um relativismo cultural que passa a excluir do centro do seu fundamento a pessoa humana, para exaltar uma liberdade que estaria mais próxima de uma anarquia, cujo individualismo e a sobrepujança dos desejos pessoais excluem a essência da ordem moral que diz respeito ao bem da vida.

Sob a égide da defesa da consciência individual e da laicidade, o relativismo cultural tenta impor ao fiel a mitificação de que os princípios que norteiam a fé cristã seriam incompatíveis com o exercício da política, fato que levaria o fiel a viver duas vidas, dois propósitos, um da fé religiosa com seus cultos, doutrinas e tradições morais e outro da vida natural cujo princípio moral perde sentido a cada imposição da satisfação dos desejos de pequenos grupos em defesa dos seus direitos individuais.

O homem não pode despir-se da sua fé para viver qualquer situação da sua vida comum.

O homem de fé deve satisfação ao compromisso livre e consciente que fez ao convite de Deus, o qual ele responde com a sua adesão ao propósito de seguir, por amor, o Caminho, a Verdade e a Vida que é Jesus Cristo, prestando obediência (ob-audire) com os ouvidos desobstruídos pelo poder do Espírito Santo, aos mandamentos da lei de Deus, assim resumidos em Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Portanto, por obediência e amor a Deus, o fiel deve conduzir suas ações com o objeto do bem comum, centralizando a pessoa humana e a vida como beneficiários naturais, pré-questionando sempre se o ato ou omissão tem como resultado o benefício da humanidade.

A uma “anarquia moral” seremos conduzidos se abdicarmos da coerência da nossa consciência cristã em nome do respeito da consciência individual, assim manifesta a Congregação para a Doutrina Da Fé em Nota Doutrinal sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política (Roma, 24 de novembro de 2002):

Nas sociedades democráticas todas as propostas são discutidas e avaliadas livremente. Aquele que, em nome do respeito da consciência individual, visse no dever moral dos cristãos de ser coerentes com a própria consciência um sinal para desqualificá-los politicamente, negando a sua legitimidade de agir em política de acordo com as próprias convicções relativas ao bem comum, cairia numa espécie de intolerante laicismo. Com tal perspectiva pretende-se negar, não só qualquer relevância política e cultural da fé cristã, mas até a própria possibilidade de uma ética natural. Se assim fosse, abrir-se-ia caminho a uma anarquia moral, que nada e nunca teria a ver com qualquer forma de legítimo pluralismo. A prepotência do mais forte sobre o fraco seria a consequência lógica de uma tal impostação. Aliás, a marginalização do Cristianismo não poderia ajudar ao projeto de uma sociedade futura e à concórdia entre os povos; seria, pelo contrário, uma ameaça para os próprios fundamentos espirituais e culturais da civilização.

Fé, é adesão por convicção consciente e plenitude da obediência ao convite de Deus e política, é ciência e arte da governança e do relacionamento humano na administração do bem comum.

O princípio e fundamento da fé cristã é Jesus Cristo, o amor.

Para que a política, seja na governança ou nos atos públicos do nosso dia a dia, administrando ou outorgando poderes pelo voto, tenha verdadeiramente por escopo o bem comum, ela não pode afastar-se da moral e nem o homem que a promove afastar-se da fé que o une a Deus.

Fé e política, união pelo objeto do amor, ambas desejam o bem comum, a fé promove no homem os impulsos para que aja politicamente com respeito aos princípios do amor, fiel a Jesus cristo.

Quando o fiel abre mão dos princípios da fé cristã em prol da política, ele está abdicando da sua fé, e em questão de fé não há meio termo, é tudo ou nada.

A omissão, o silêncio do fiel frente à política contrária ao bem comum, tal qual a abdicação dos princípios morais da fé cristã para a adesão à política, também representa o abandono a Jesus Cristo por inteiro.

A vida do fiel cristão é cristocêntrica, mesmo nos deslizes a presença central de Jesus Cristo é que o fará reerguer-se e retomar o Caminho que o leva à Verdade.


Fontes consultadas:

Catecismo da Igreja Católica / Curso de Catecismo da Igreja Católica do Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior – Arquidiocese de Cuiabá-MT – www.padrepauloricardo.org / Congregação para a Doutrina da Fé – Nota Doutrinal sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política – Roma 24/11/2002 – www.vatican.va / Bíblia Sagrada – Tradução da CNBB / Carta Encíclica Fides et Ratio Do Sumo Pontífice João Paulo II- Roma, 14/09/1998 / Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina – Roma 18/11/1965 Papa Paulo VI.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

MANIFESTO REPUBLICANO
José Angelo da Silva Campos
No meu silêncio assisti entusiasmado o envolvimento fascinante dos usuários do facebook na nossa maior manifestação de cidadania, o pleito eleitoral.
Quebro meu silêncio para conclamar a todos que dêem sequência ao debate e que ele não fique restrito a esse período.
Os excessos cometidos por alguns, ficam na conta da paixão. Mas a arte do debate sai, com certeza, vitoriosa.
“É pois, — começou o Africano, — a República coisa do povo, considerando tal, não todos os homens de qualquer modo congregados, mas a reunião que tem seu fundamento no consentimento jurídico e na utilidade comum. Pois bem: a primeira causa dessa agregação de uns homens a outros é menos a sua debilidade do que um certo instinto de sociabilidade em todos inato; a espécie humana não nasceu para o isolamento e para a vida errante, mas com uma disposição que, mesmo na abundância de todos os bens, a leva a procurar o apoio comum.(...) – da obra DA REPÚBLICA de Marco Túlio Cícero – 51 AC

A República clama, a liberdade aspira e a democracia incita todos ao debate, mesmo que filosófico (por que?), para que o apoio comum nos torne verdadeiramente responsáveis pela coisa pública.
É esse sentido de responsabilidade (o que eu tenho a ver com isso?), que como do nada nos envolve numa discussão, muitas vezes sem sentido, sobre o que é melhor para a sociedade.
A República exige de nós essa participação ativa. Uma participação que estamos aprendendo aos poucos como exercê-la.
Não nos esqueçamos dos corajosos cidadãos que expuseram sua imagem para que o teatro da vida real acontecesse.
Não importa a formação, a República se abre desde o analfabeto ao doutor e mestre; não importa o sexo ou opção sexual; não importa a etnia; não importa a condição financeira ou social.
São todos eles os verdadeiros representantes do povo. Dentre eles há o honesto, mas há também o desonesto e mal intencionado.  
A democracia lança a sorte ao julgo do povo.
Esse é o momento de agir com juízo de valor.
O debate não pode parar.
Que os cidadãos, em especial os jovens, dêem prosseguimento ao debate de idéias, seja no facebook, mas que ali não fique restrito. Expanda-se a discussão para as salas de aula, reuniões das comunidades e associações, na praça pública.
A participação na formação das idéias e na discussão dos valores éticos inerentes à coisa pública deve aguçar o nosso desejo em participar, participar de verdade, dos Conselhos Municipais.
Os Conselhos Municipais representam a ação direta do poder do povo na administração Pública.
Que a nossa voz não se cale jamais.
A República agradece.